(Texto de Ramon Nascimento Pimentel Andrade)
Móveis antigos, pessoas em silêncio na entrada um livro de ata em cima da mesa. Um clima austero disciplinador. O salão é similar ao que aparece em filmes ou em demonstrações na televisão, estar em um é bem diferente.
Para um iniciante, alguém que nunca esteve ali ou em algum lugar como aquele, pode se surpreender com a sisudez e acreditar que algo muito sério vai acontecer, ou já se passou, digo alguma repreensão ou reclamação, uma briga ou até mesmo uma expulsão.
Mesmo assim é fácil acreditar que algo desse tipo é iminente ou pode ocorrer a qualquer momento afinal vendo-se todos debruçados, concentrados sobre seus pedidos, apesar de estarem tão perto, um de frente e ao lado do outro e não haver nem uma troca de olhares, e se houver um olhar ou alguma palavra ela e furtiva curta, como algo fora do lugar, ilegal.
Não é um ambiente acolhedor, mas por necessidade você assina a ata, diz o que quer o funcionário se dirige e busca a sua solicitação. Sua mochila ou bolsa e devidamente guardada antes que você entre no recinto e sentado aguarde até ser atendido.
A ordem e o clima austero parecem perenes imutáveis, até que um celular toca, num alto e engraçado som, alguns se assustam outros riem e outros se incomodam. Toca pela segunda vez e as mesmas reações se apresentam, desta vez o rapaz trata de desligar o aparelho.
O padrão foi abalado, mas logo voltou ao normal, ao entrar todos sabiam das regras e se sujeitaram a elas, quebrá-las seria incoerente, se submeter é esperado e inquestionável, as normas já estavam ali antes de chegarmos, por motivos que deduzimos, elas são eficientes em algum sentido, faz as coisas acontecerem.
Sabemos quais são as leis não por palavras ou anúncio o qualquer tipo de conversa, vemos os outros agirem, vemos as disposições das coisas, os espaços, a mesa e o livro aberto. Aquilo existe estamos vendo.
Estamos de passagem, elas parassem eficientes, conseguimos o que queremos, estamos lendo e nos comportando da mesma forma, apesar das diferentes reações continuamos fazendo a mesma coisa sentados nos mesmo lugares, numa unanimidade, estamos num ambiente construído antes de nos estarmos ali, não fizemos parte de sua elaboração, aliás é uma dádiva, o local existe para prestar um serviço para ajudar.
As cadeiras, as pessoas, o livro de ata, os livros a disposição, os funcionários. Tudo indica, uma colaboração um auxilio, ali somos persuadidos, a agir e a reagir de forma a se adequar ao local, a imitar os que estão ali, e por que não, conseguimos o que queremos sem risco de sofrer qualquer retaliação ou perda.
Os que entram na escada e estão na recepção tem uma conduta mais solta descontraída, mas ao passar pela mesa algo acontece estamos num outro meio, sua ordem foi feita provavelmente por quem o criou, os trabalhadores o mantém, nós que só pedimos, somos beneficiados.
Não construímos, não fazemos parte, estamos de passagem, não poderíamos ficar não é uma casa, não estamos envolvidos não podemos e não devemos alterar nada. A mera sugestão seria ridícula, insensata. Esse é o ambiente, ou melhor, a impressão que se tem quando se entra na biblioteca da Diocese, em Juazeiro, Norte da Bahia.
Numa sala de aula, a mobilidade é maior, mas como atender as exigências da educação com os meios, ensinar português, matemática e demais temas necessários para vestibulares, concursos e exames de admissão em geral, e o professor ainda mantém em tornos de si o foco das atividades, não a troca.
De onde partiriam as mudanças? E como as tecnologias, computador, rádio seriam usadas nesse contexto? Como elas iriam melhorar a educação? Como ensinar a ter uma visão critica dos meios de comunicação se os jovens muitas vezes não a exercessem na escola, e não se sentirem a vontade para isso?
Alguns ficam entre o desinteresse e a apatia, entre a falta de compromisso com os estudos e a rebeldia destrutiva. E quantas pessoas usam a tecnologia para se informar e exercer sua cidadania? Boa parte vê nesses meios apenas instrumentos de diversão. A propaganda os vende dessa forma: status e entretenimento.
Como inserir a critica aos meios e utiliza-los para a ampliação do ensino e o aumento da qualidade da educação? Esses meios tem distanciando muitos de sua realidade, a autonomia, o dialogo a reflexão criativa e o agir sobre a sociedade, preconizados por Paulo Freire, tem sido relegados.
Não que a tecnologia, câmeras digitais, internet, gravadores, imponha esse tipo de comportamento ou conduta. É no contexto social que o uso e a disseminação dessas ferramentas ocorrem.
As questões são muitas e os desmembramentos são difíceis de serem antecipados. A distância entre educação e entretenimento e a conseqüente percepção que se tem da educação tradicional e da inserção da tecnologia, do seu uso, são conflitantes.
Nessa situação um outro local ou locais de ensino que não remeta a sisudez e controles desses tradicionais ambientes. Onde todos possam participar e se sentir a vontade, pois construíram e são parte constitutiva daquele cenário. Onde não necessariamente aja alguém no centro produzido ao dando pronto o debate mas aquele(s) com mais vivência e experiência em determinado assunto possam se destacar naturalmente .
As novas ferramentas da comunicação possam ser usadas de acordo com as práticas e interesse de todos desde se respeite o olhar de cada um sobre o seu meio, quais as atividades que mais lhe chamam a atenção, onde eles se sentem capaz de agir, de resolver problemas de criar soluções.
Onde a tecnologia não repita a formula restrita da absorção de conhecimentos, sem ao menos vislumbrar onde ela poderia ser utilizada. Um(s) ambiente(s) onde a observação e a experimentação fossem valorizadas tendo os meios como ferramenta, e não como um fim em si mesmos. Em que a estrutura não fosse disposta de forma rígida, onde as divisões estivessem preestabelecidas, simulando um fábrica.
As ferramentas da comunicação se encaixam nesse cenário ou não. No Chile entre 1970 a 1973, o governo de Salvador Allende promoveu uma distribuição generalizada e gratuita dos dados da economia nacional, com o objetivo de auxiliar os trabalhadores a tomarem medidas para melhor investir seu dinheiro. Os dados eram armazenados num computador central e distribuídos nas fábricas.
Sem uma mudança no atual sistema de funcionamento da educação, refletida nos locais de ensino, o potencial que as tecnologias tem para viabilizar ações de denúncia protesto e divulgação de conhecimento ficam comprometidas, continuará sendo a visão de uns poucos legitimada pela presença inativa de muitos.
Uma sala de aula com lousa digital, DVD e computador pode, e provavelmente vai captar a atenção de muitos, porém por si só não irá conscientizar os estudantes para o seu papel na história. Uma nova conformação no ambiente escolar acompanhada a uma nova postura diante do poder dos novos meios e da participação ativa de todos.
Prioritariamente uma mudança de ideologia, de paradigma, se assim não ocorrer, as novas tecnologias, com seu encanto natural, irão ampliar o fosso dar nova vida a um sistema deficitário, no qual alguns estudantes conseguem sair sem graves danos, dando uma nova roupagem, mas sendo essencialmente mais do mesmo. E o encanto só dura quando a tecnologia é “nova”.
Bom os problemas são claros visíveis e bem discutidos, apontar falhas é um bom esporte, fácil e não exige riscos. Porem a questão aberta pela tecnologia é: o acesso a informação e a sua vinculação. Se o professor pedir uma pesquisa antecipando o conteúdo da aula possivelmente não haverá desculpas.
Unindo o conteúdo exigido ao cotidiano o estudante seria “jogado” sobre o assunto, por exemplo, adjunto adverbial, água, Revolução Francesa. O tema a ser tratado seria exposto, de forma sucinta, antes da aula final, o(s) estudante(s) produziriam algum material, foto, vídeo, texto, ou todos, expondo o assunto. Sendo adjunto adverbial ele poderia procurar em revistas que costuma-se ler, de gibis a revista de saúde e beleza, na forma de uso da água, ele poderia mostrar como a água é tratada no seu bairro, na sua casa.
Em relação a Revolução Francesa, estudantes que conhecem algum tipo de opressão e desmando e exclusão, demissão sem justa causa, condições precárias nos hospitais, ou quem sabe ele possa descobrir através do site do Tribunal de Contas Da União – TCU – um superfaturamento.
O ambiente sairia da escola da biblioteca, para a rua e locais conhecidos pelos estudantes. A escola, e afins seriam espaços de reunião de encontro, a autoridade do professor estaria em mediar o encontro estabelecer vínculos apontar caminhos usando o que foi produzido.
Atualmente para ser cidadão temos que ter acesso a várias ferramentas principalmente a internet. Outro ponto interessante é que o serviço público está se movendo para esses meios, disponibiliza-los será uma função primária do Estado, senão este será acusado de um novo tipo de exclusão.
Dessa forma seria possível mostra na prática ao estudante a necessidade de criar, fazer dentro do que sabe de acordo com sua aptidão e interesse, usando os novos meios para agir. Como instrumentos que ampliaram nossa capacidade e raio de atuação.
A escola passa a valorizar o conhecimento adquirido por meio da observação da experiência que por menor que seja possui vínculos com o conhecimento cientifico, considerado por alguns como um refinamento do senso comum.