terça-feira, 4 de agosto de 2009

Mídia e Escola: perspectivas para políticas públicas

Fernando Rossetti, em seu livro Mídia e Escola: perspectivas para políticas públicas, apresenta observações sobre o campo ecucomunicacional (comunicação e educação), trazendo à tona o processo de interação e a construção do conhecimento através do diálogo e das experiências adquiridas ao longo da vida. Desta maneira, o acompanhamento da educação infantil e a inserção de tópicos comunicacionais, corroborarão para a promoção de políticas públicas.

As observações de Rossetti são feitas a partir do trabalho desenvolvido por algumas ONGs, notando criteriosamente a relação da mídia com a escola, apontando para novos horizontes na formação crítica individual pela difusão da informação e a reestruturação midiática. Em meio ao que é desenvolvido por estas entidades, o autor sugere que tomemos como exemplo os resultados positivos, a fim de transformá-los em políticas públicas de comunicação e educação.

Foto senado.gov.br (Quantidade e qualidade da mídia influenciam a saúde das crianças e adolescentes)

Nos seis capítulos do livro, o autor questiona os métodos utilizados pelas escolas tradicionais, em que se usa o conhecimento pra fortalecer discursos, ao invés de promover a geração de novas lógicas. Ele defende ainda que as crianças estão cerceadas por “cargas de informação” e que, muitas vezes, não há aprofundamento nem discernimento do que lhe é benéfico ou nocivo.

Partindo do ponto de vista de teóricos como Martin-Barbero e Paulo Freire, Rossetti insere as explanações sobre tecnologia, comunicação e educação libertadora nos seus apontamentos, orientando os professores a fomentar a formação continuada e a profusão do conhecimento a partir dos signos da comunicação em que são incluídos todos os tipos de símbolos emitidos pelos meios, como os da publicidade, do jornalismo ou qualquer outro. Neste ponto, Rossetti se aproxima de Franklin Fearing (A Comunicação Humana), em que ambos defendem a formação do indivíduo através da interação com a comunicação. Neste processo de comunicação e educação são gerados estímulos, com os quais o indivíduo se locomove. Sendo assim, a comunicação pode estar numa placa de trânsito, num cavalete de obra no meio da rua, numa faixa preta numa loja fechada(luto), numa luz vermelha, entre muitos símbolos, comunicando e gerando um fluxo de informação entre o sujeito e o mundo. Quanto mais se percebe e se conhece estes signos, mas se detém discernimento e altivez social.

Desta maneira, o envolvimento da comunidade nos projetos desenvolvidos na vida escolar e nas redes comunicativas, facilitaria a formação de produtos educomunicacionais que sortiriam efeito com mais eficácia, além de favorecer a inserção dos cidadãos nos produtos midiáticos. Seria um trabalho em que a comunidade educadora promove a participação dos alunos, incumbindo-lhes o dever da construção de políticas públicas educacionais. Mesmo que os projetos observados tenham rendido resultados satisfatórios, Rosseti afirma que não é fácil computa-los qualitativamente, uma vez que eles são estendidos a todo e qualquer indivíduo que tenha ligação com o projeto.

Hoje, os educadores buscam implementar o ensino com ferramentas formadoras de opinião, haja vista que há a tentativa de democratização social e acesso aos meios educacionais e comunicativos, como é o caso da formação de diretrizes básicas de educação e a inserção de jovens de baixa renda no ensino superior privado, através de programas como PROUNI (Universidade para todos) ou “Pedagogia da Terra” (direcionado aos integrantes do Movimento dos Sem Terra) e a valorização do magistério, como ponto crucial.

Contudo, o autor tenta desvendar os nossos olhos para o balizamento ofertado pelos meios de comunicação, através do desenvolvimento educacional desde os primeiros passos até a formação crítica individual e a geração de políticas públicas eficazes, capazes de transformar o ato de um sujeito em uma cadeia de ações beneficiadoras do restante da sociedade, criando um círculo vicioso capaz de sanar as tensões sociais, que neste caso, agiria para a melhoria da vida em comunidade.

Por

Wllyssys Wolfgang

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Ambientes Educativos

(Texto de Ramon Nascimento Pimentel Andrade)

Móveis antigos, pessoas em silêncio na entrada um livro de ata em cima da mesa. Um clima austero disciplinador. O salão é similar ao que aparece em filmes ou em demonstrações na televisão, estar em um é bem diferente.

Para um iniciante, alguém que nunca esteve ali ou em algum lugar como aquele, pode se surpreender com a sisudez e acreditar que algo muito sério vai acontecer, ou já se passou, digo alguma repreensão ou reclamação, uma briga ou até mesmo uma expulsão.

Mesmo assim é fácil acreditar que algo desse tipo é iminente ou pode ocorrer a qualquer momento afinal vendo-se todos debruçados, concentrados sobre seus pedidos, apesar de estarem tão perto, um de frente e ao lado do outro e não haver nem uma troca de olhares, e se houver um olhar ou alguma palavra ela e furtiva curta, como algo fora do lugar, ilegal.

Não é um ambiente acolhedor, mas por necessidade você assina a ata, diz o que quer o funcionário se dirige e busca a sua solicitação. Sua mochila ou bolsa e devidamente guardada antes que você entre no recinto e sentado aguarde até ser atendido.

A ordem e o clima austero parecem perenes imutáveis, até que um celular toca, num alto e engraçado som, alguns se assustam outros riem e outros se incomodam. Toca pela segunda vez e as mesmas reações se apresentam, desta vez o rapaz trata de desligar o aparelho.

O padrão foi abalado, mas logo voltou ao normal, ao entrar todos sabiam das regras e se sujeitaram a elas, quebrá-las seria incoerente, se submeter é esperado e inquestionável, as normas já estavam ali antes de chegarmos, por motivos que deduzimos, elas são eficientes em algum sentido, faz as coisas acontecerem.

Sabemos quais são as leis não por palavras ou anúncio o qualquer tipo de conversa, vemos os outros agirem, vemos as disposições das coisas, os espaços, a mesa e o livro aberto. Aquilo existe estamos vendo.
Estamos de passagem, elas parassem eficientes, conseguimos o que queremos, estamos lendo e nos comportando da mesma forma, apesar das diferentes reações continuamos fazendo a mesma coisa sentados nos mesmo lugares, numa unanimidade, estamos num ambiente construído antes de nos estarmos ali, não fizemos parte de sua elaboração, aliás é uma dádiva, o local existe para prestar um serviço para ajudar.

As cadeiras, as pessoas, o livro de ata, os livros a disposição, os funcionários. Tudo indica, uma colaboração um auxilio, ali somos persuadidos, a agir e a reagir de forma a se adequar ao local, a imitar os que estão ali, e por que não, conseguimos o que queremos sem risco de sofrer qualquer retaliação ou perda.

Os que entram na escada e estão na recepção tem uma conduta mais solta descontraída, mas ao passar pela mesa algo acontece estamos num outro meio, sua ordem foi feita provavelmente por quem o criou, os trabalhadores o mantém, nós que só pedimos, somos beneficiados.

Não construímos, não fazemos parte, estamos de passagem, não poderíamos ficar não é uma casa, não estamos envolvidos não podemos e não devemos alterar nada. A mera sugestão seria ridícula, insensata. Esse é o ambiente, ou melhor, a impressão que se tem quando se entra na biblioteca da Diocese, em Juazeiro, Norte da Bahia.

Numa sala de aula, a mobilidade é maior, mas como atender as exigências da educação com os meios, ensinar português, matemática e demais temas necessários para vestibulares, concursos e exames de admissão em geral, e o professor ainda mantém em tornos de si o foco das atividades, não a troca.

De onde partiriam as mudanças? E como as tecnologias, computador, rádio seriam usadas nesse contexto? Como elas iriam melhorar a educação? Como ensinar a ter uma visão critica dos meios de comunicação se os jovens muitas vezes não a exercessem na escola, e não se sentirem a vontade para isso?

Alguns ficam entre o desinteresse e a apatia, entre a falta de compromisso com os estudos e a rebeldia destrutiva. E quantas pessoas usam a tecnologia para se informar e exercer sua cidadania? Boa parte vê nesses meios apenas instrumentos de diversão. A propaganda os vende dessa forma: status e entretenimento.

Como inserir a critica aos meios e utiliza-los para a ampliação do ensino e o aumento da qualidade da educação? Esses meios tem distanciando muitos de sua realidade, a autonomia, o dialogo a reflexão criativa e o agir sobre a sociedade, preconizados por Paulo Freire, tem sido relegados.

Não que a tecnologia, câmeras digitais, internet, gravadores, imponha esse tipo de comportamento ou conduta. É no contexto social que o uso e a disseminação dessas ferramentas ocorrem.

As questões são muitas e os desmembramentos são difíceis de serem antecipados. A distância entre educação e entretenimento e a conseqüente percepção que se tem da educação tradicional e da inserção da tecnologia, do seu uso, são conflitantes.

Nessa situação um outro local ou locais de ensino que não remeta a sisudez e controles desses tradicionais ambientes. Onde todos possam participar e se sentir a vontade, pois construíram e são parte constitutiva daquele cenário. Onde não necessariamente aja alguém no centro produzido ao dando pronto o debate mas aquele(s) com mais vivência e experiência em determinado assunto possam se destacar naturalmente .

As novas ferramentas da comunicação possam ser usadas de acordo com as práticas e interesse de todos desde se respeite o olhar de cada um sobre o seu meio, quais as atividades que mais lhe chamam a atenção, onde eles se sentem capaz de agir, de resolver problemas de criar soluções.

Onde a tecnologia não repita a formula restrita da absorção de conhecimentos, sem ao menos vislumbrar onde ela poderia ser utilizada. Um(s) ambiente(s) onde a observação e a experimentação fossem valorizadas tendo os meios como ferramenta, e não como um fim em si mesmos. Em que a estrutura não fosse disposta de forma rígida, onde as divisões estivessem preestabelecidas, simulando um fábrica.

As ferramentas da comunicação se encaixam nesse cenário ou não. No Chile entre 1970 a 1973, o governo de Salvador Allende promoveu uma distribuição generalizada e gratuita dos dados da economia nacional, com o objetivo de auxiliar os trabalhadores a tomarem medidas para melhor investir seu dinheiro. Os dados eram armazenados num computador central e distribuídos nas fábricas.

Sem uma mudança no atual sistema de funcionamento da educação, refletida nos locais de ensino, o potencial que as tecnologias tem para viabilizar ações de denúncia protesto e divulgação de conhecimento ficam comprometidas, continuará sendo a visão de uns poucos legitimada pela presença inativa de muitos.

Uma sala de aula com lousa digital, DVD e computador pode, e provavelmente vai captar a atenção de muitos, porém por si só não irá conscientizar os estudantes para o seu papel na história. Uma nova conformação no ambiente escolar acompanhada a uma nova postura diante do poder dos novos meios e da participação ativa de todos.

Prioritariamente uma mudança de ideologia, de paradigma, se assim não ocorrer, as novas tecnologias, com seu encanto natural, irão ampliar o fosso dar nova vida a um sistema deficitário, no qual alguns estudantes conseguem sair sem graves danos, dando uma nova roupagem, mas sendo essencialmente mais do mesmo. E o encanto só dura quando a tecnologia é “nova”.

Bom os problemas são claros visíveis e bem discutidos, apontar falhas é um bom esporte, fácil e não exige riscos. Porem a questão aberta pela tecnologia é: o acesso a informação e a sua vinculação. Se o professor pedir uma pesquisa antecipando o conteúdo da aula possivelmente não haverá desculpas.

Unindo o conteúdo exigido ao cotidiano o estudante seria “jogado” sobre o assunto, por exemplo, adjunto adverbial, água, Revolução Francesa. O tema a ser tratado seria exposto, de forma sucinta, antes da aula final, o(s) estudante(s) produziriam algum material, foto, vídeo, texto, ou todos, expondo o assunto. Sendo adjunto adverbial ele poderia procurar em revistas que costuma-se ler, de gibis a revista de saúde e beleza, na forma de uso da água, ele poderia mostrar como a água é tratada no seu bairro, na sua casa.

Em relação a Revolução Francesa, estudantes que conhecem algum tipo de opressão e desmando e exclusão, demissão sem justa causa, condições precárias nos hospitais, ou quem sabe ele possa descobrir através do site do Tribunal de Contas Da União – TCU – um superfaturamento.

O ambiente sairia da escola da biblioteca, para a rua e locais conhecidos pelos estudantes. A escola, e afins seriam espaços de reunião de encontro, a autoridade do professor estaria em mediar o encontro estabelecer vínculos apontar caminhos usando o que foi produzido.

Atualmente para ser cidadão temos que ter acesso a várias ferramentas principalmente a internet. Outro ponto interessante é que o serviço público está se movendo para esses meios, disponibiliza-los será uma função primária do Estado, senão este será acusado de um novo tipo de exclusão.

Dessa forma seria possível mostra na prática ao estudante a necessidade de criar, fazer dentro do que sabe de acordo com sua aptidão e interesse, usando os novos meios para agir. Como instrumentos que ampliaram nossa capacidade e raio de atuação.

A escola passa a valorizar o conhecimento adquirido por meio da observação da experiência que por menor que seja possui vínculos com o conhecimento cientifico, considerado por alguns como um refinamento do senso comum.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

EU LEVEI KEN PARK PARA A SALA DE AULA


Josemar da Silva Martins (Pinzoh)
Professor

Ultimamente o falso-moralismo ombreia com o discurso de uma “sociedade aberta”. Professores andam sendo chamados a prestar esclarecimentos à justiça, e aos pais dos alunos e à sociedade, sempre que tocam em temas polêmicos. E a polêmica pode ser apenas o uso de um palavrão em sala de aula. O problema é que estamos vivendo, com patrocínio das grandes corporações da mídia e com verba pública, uma cultura do palavrão. Prefeitos não param de contratar bandas que fazem sucesso com sua linguagem chula, para divertir a multidão em praças públicas, cuja presença de crianças e adolescentes é majoritária. Tenho muitas cenas gravadas em vídeo, que sobraram da edição do vídeo “O Estado da Arte da Fuleragem” (2007). Mas nenhum deles é chamado a prestar esclarecimentos nem à justiça, nem aos pais, nem à sociedade como um todo. Todo mundo reivindica para si a “liberdade de expressão” e o seu direito à diversidade, tudo de acordo com uma moralidade e uma ética “a la carte”. Mas professor não! Professor não pode gozar desta liberdade, porque apenas ele é responsabilizado pela formação dos “valores”. Grande piada sem graça!

Mas, como diria Jean Baudrillard – e como diz Odomaria Bandeira – tudo não passa de simulação. Ou mais: puro simulacro! As insinuações de sexo explícito em praça pública e custeadas com dinheiro público, a erotização até dos programas infantis, tudo feito em nome da diversidade e da liberdade de expressão, a violência e o sensacionalismo de programas de TV que vivem de sangue e obscenidade, não resistem a um choque de realidade. Eis porque levei Ken Park (2002), filme de Lary Clark, para a sala do 6º período do curso de Comunicação Social – Jornalismo em Multimeios (DCH III/UNEB).

Conheço tanto os elogios quanto a crítica ácida ao filme. Nos dois casos o motivo é o mesmo: a explicitude com que os temas são abordados e as cenas são tratadas! Há momentos em que tudo é tão real, que a interpretação quase atinge o seu grau zero! Tudo ali! Cru! No duro! Uma mijada é uma mijada, uma chupada é uma chupada e um orgasmo parece ser um orgasmo mesmo! Mas não é um filme erótico, não lhe excita. Pelo contrário: lhe convoca e até lhe insulta! Aliás, difícil é assisti-lo passivamente! A realidade abordada não é feliz, há uma sombra de degradação, frustrações, complexos, profunda incompletude, razão porque se instala uma espécie de utopia juvenil ligada aos prazeres sexuais. Nada demais! O sexo virou um bom negócio até para vender carro, cerveja – e antes para vender até cigarro!

Além disso, há muitos escritos sobre o hedonismo do presente e sobre essa promessa de gozo extra-humano, sempre adiado, promessa não cumprida, razão de tantas frustrações, ansiedades e depressões.

Mas eu levei o filme e o exibi também por outras duas razões. A primeira é uma provocação a esta imagem sempre pretensamente bacana, descolada, liberal, eclética e outros termos típicos da linguagem pós-moderna. Para muitos – os que querem se parecer sempre mais abertos – o filme é um teste. E eles caem! A abertura derrepente se fecha, bruscamente! Não conseguem ver nada no filme! Da minha parte, o filme permite mapear uma sala e apresentar o seu avesso. O avesso do que parece! O avesso da simulação! Cai a máscara do simulacro! Prefiro os outros, os que o encaram e pensam sobre ele, sobre o seu discurso! Os que se pensam vendo filme!

A segunda razão é que estou trabalhando “Comunicação e Educação II”. Tenho sempre claro para mim que aquilo que hoje é nomeado como Educomunicação (que é o centro do sentido da disciplina), não é uma coisa que se faz ao léu, como se fosse uma “arte contemporânea”. Educomunicação é o engajamento da comunicação em algum propósito educativo. E engajamento é algo motivado por uma indignação. Até na filosofia de Heidegger a indignação é princípio motor da reflexão! Não se pode pensar em Educomunicação sem uma intenção de intervir num jogo de forças com vistas a alterá-lo de algum modo. E para isso é preciso vislumbrar algo sobre este jogo de forças! É preciso mapeá-lo minimamente! A questão seria pensar: que jogo de forças constitui a realidade de Ken Park? E se tivéssemos que intervir naquela realidade, sem pretensões totalitárias, que produtos educomunicativos teríamos que pensar.

Mas há sempre os que se acham mais espertos – e mais lindos – que todo mundo. Narciso se manifesta! E como o mundo atual é profundamente relativista, há os que dizem: “e se eu quiser ser reacionário e conservador, eu não tenho direito não?” Derrepente, a gente está diante de uma aula de como organizar uma aula e, o que é pior, diante de uma extroversão do princípio de liberdade de expressão, quando ela atinge seu contrário ao ser levada até as últimas consequências, algo do tipo: "se sou tolerante tenho que sê-lo até mesmo com os intolerantes". Ou o contrário: " se sou tolerante não posso sê-lo com os intolerantes", o que dá quase na mesma. Típico paradoxo de nossos tempos. Tô é velho!
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Mas, em compensação, saíram coisas fabulosas da discussão. Até uma noção de comunicação que não enxerga comunicação no silêncio, no não dito, no interdito! E isso depois de um texto de Franklin Fearing, sobre a comunicação humana. Também concordo que nem tudo tem que ser explícito, mas o explícito no filme deve ter uma intenção. Por outro lado, penso: que tipo de jornalista se negaria a ver e a pensar sobre um filme como Ken Park, com a desculpa de que nele não há comunicação? E que teoria da comunicação sustenta isso? Acho que só não valeria dizer: “eu disse isso mas vocês pensem o que vocês quiserem”. Dizer isso virou moda, já que qualquer elefante o diria também!

A PECULIAR COMUNICAÇÃO HUMANA

[Este texto eu recebi por e-mail, eu imagino que ele é relativo à atividade programada do dia 26 de maio, mas não há identificação de autoria]
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Da interação do homem com o meio surge à comunicação. Em um processo de criação, compartilhamento, preservação da vida humana e de suas atividades são geradas situações de comportamento, que serão significadas pelos estímulos (símbolos, signos).
Nessa relação bidirecional, do privado para o público, do interno para o externo, há o processo compartilhado entre o emissor e o receptor do mesmo signo ou símbolo, em que as reações aos estímulos irão variar de acordo com a práxis cultural. Por exemplo, uma piada americana ao ser contada, só terá sentido se o indivíduo compreender, dominar as particularidades do idioma inglês.
O comportamento humano transforma as situações diversas – percepções, sensações e sentimentos, em palavras ou frases. O homem vai através dos símbolos ordenando, classificando e representando o mundo. Ao buscar compor o retrato do mundo, o ser humano tenta articular, através da cognição, os fatores externos, o sistema de valores e a percepção. A realidade vai se construindo, a partir de estratégias simbólicas, produzidas pelos animais, humanos ou não, para atingir um determinado fim.
De acordo, com o Campo psicológico, o homem está sempre em busca da satisfação das suas necessidades ou redução da tensão, criada pela instabilidade no meio circundante. Sempre estamos fazendo suposições automáticas ou instantâneas, acerca de uma provável ação do outro, seja este um objeto ou um indivíduo.
O homem na tentativa de perceber o meio externo, interage com seus valores e crenças, criando uma realidade semelhante (ressonância perceptiva) ou destoante (defesa perceptiva) do universo. Nessa empreitada pelo mundo da percepção-cognição, caminhamos da percepção fisionômica para a técnico-geométrica. Na primeira, mais característica da infância ou das culturas primitivas, somos regidos pelos sentimentos e estímulos desordenados, misturados as cores, cheiros, formas e sons, enquanto na segunda fase, somos dirigidos pela objetividade, pelo racional, em que nos defrontamos com um ser neutro, que busca separar o processo perceptivo do cognitivo.
Nesse jogo de significados, se percebe que não há dois universos, mas que são as diversas percepções de cada ser humano, que cria a falsa ilusão de existirem um mundo real e outro ilusório. Já para os psicólogos, há dois campos de estímulos que fazem com que os “universos” múltiplos coexistam. No primeiro campo, o comportamental, fisiogênico, predomina a subjetividade e sua análise surge a partir dos costumes, crenças, necessidades do indivíduo, enquanto o campo geográfico, já existente, nasce da descrição feita pela terminologia das ciências físicas ou da linguagem cotidiana.
Um exemplo dessa diversidade de quadros da realidade é a tribo Guayaki, que fundamenta e organiza a vida cotidiana de homens e mulheres, a partir dos tabus. São as regras que ditam a oposição dos sexos, através do uso do arco e cesto, da mesma forma em que criam a dicotomia do espaço, dando uma característica peculiar de coletores aos índios caçadores.
Nessa dicotomia de espaço, a floresta e o acampamento ganham significação diferente, para o homem a floresta é um local de plenitude existencial, ao contrário das mulheres, que obtém essa primazia apenas nos acampamentos.
Esta prática está também presente na estrutura dos bairros, através dos códigos sociais tácitos, baseados em sistemas de valores e comportamentos, que coíbem as transgressões dos usuários. Um indivíduo, ao tentar se inserir no bairro e fruir dos benefícios necessita se adaptar ao espaço do meio social organizado, que dita à forma de apresentação do corpo dos moradores, seja no modo de falar ou vestir-se, seja no modo de se apresentar ou de olhar.O meio social impede que haja dissonância nos jogos de comportamento, através do método da conveniência, em que o usuário se vê preso aos estereótipos, para ser identificável no rol dos personagens do bairro. Uma política de rua, baseada nos juízos de valor, em que a conveniência se torna o princípio da realidade, o controle do sistema de comunicação do bairro.

terça-feira, 9 de junho de 2009

ATIVIDADE PROGRAMADA

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS III – DCH III
COLEGIADO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
DISCIPLINA: COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO II – SEMESTRE 2009.1
PROFESSOR: JOSEMAR DA SILVA MARTINS (PINZOH)

ATIVIDADE PROGRAMADA

Car@s Alun@s,


Hoje comuniquei a Emanuel que estarei viajando para Campina Grande entre o dia 26 e o dia 29 de maio de 2009, onde vou participar do II Simpósio sobre Mudança Climática e Desertificação no Semiárido Brasileiro. Tentei mudar minha viagem para quarta, mas a minha mesa é na quarta, às 14 horas e, pela disponibilidade de vôos, eu chegaria lá depois do horário da mesa. Então tenho que ir na terça-feira mesmo, às 06h00minh, único horário disponível.
Sei que tardei em fazer este comunicado – e até me esqueci de conversar sobre isso com vocês na aula passada. Hoje falei para alguns alunos que ia viajar e não haveria aula, mas Emanuel sugeriu que eu deixasse uma atividade programada, então estou encaminhando a seguinte proposta:
1. Vocês estão com o texto "A COMUNICAÇÃO HUMANA", de Franklin Fearing (FEARING, Franklin. A comunicação humana. In: COHN, Gabriel. Comunicação e Indústria Cultural. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1971, p. 56 – 82). Este texto deveria ter sido discutido na aula passada, mas não houve tempo. Deveria, portanto, ser discutido na próxima aula, que seria esta. Então vamos nos valer dele.
2. A proposta é que vocês, já tendo lido o texto (é minha suposição), ESCREVAM UM TEXTO NO QUAL RESPONDAM, DE MODO DISSERTATIVO E ARGUMENTADO (mas não precisa ser exaustivo), AS QUESTÕES POSTAS ABAIXO:
A) No referido texto o autor afirma que a comunicação sempre visa produzir um resultado, uma reação, dirigir o comportamento, mas ela depende de sentidos compartilhados. Diz ele: "nenhuma comunicação ou significado socializado poderá existir sem que haja esse processo compartilhado através da mediação de certos estímulos chamados signos ou símbolos (p. 59). Mas as reações não são automáticas, elas dependem de certos fatores. Quais seriam esses fatores?
B) Segundo o texto, o que viria a ser o que o autor chama de "estruturação da realidade"?
C) Em que consistiriam as percepções fisionômica e técnico-geométrica?
D) O autor fala de campos de estímulo e situa os campos comportamental e geográfico; fala de objetos de estímulo situados no (e compondo o) "ambiente". Que aproximações essa parte do texto apresenta em relação aos temas que já discutimos em sala: “a conveniência”, “o arco e o cesto”, etc?
3. O texto pode ser feito individualmente ou em grupo (aceito até 5 pessoas por grupo), e após feito, deve ser postado no blog da disciplina (http://www.educomum.blogspot.com/). O prazo para que ele esteja postado é até sexta-feira, dia 29 de maio. Esta atividade, além de cobrir as aulas do dia 26 de maio, também servirá para compor uma primeira nota.
Entendo que, se o texto já foi lido, escrever sobre estes aspectos presentes no texto não apresentará nenhuma dificuldade. A proposta é essa. Ela é viável?
Aguardo as reações de vocês.
Abraços
Josemar da Silva Martins (Pinzoh)
Professor

segunda-feira, 1 de junho de 2009

RESPOSTAS À ATIVIDADE PROGRAMADA

a) O receptor por algum tempo foi visto apenas como um sujeito passivo, que absorvia toda a mensagem que o emissor lhe enviava. Entretanto, alguns teóricos se preocuparam com o conjunto de manifestações que compõem uma relação de comunicação. Como diz Peruzzolo (2004, p.133) há quem fala, que produz um acontecimento comunicativo e há que ouve/lê, que acolhe o texto , mas sobretudo o re-produz. Assim, os protagonistas do intercâmbio são dois sujeitos humanos.

Quando o emissor produz um texto ou qualquer outra forma de comunicação, ele antecipa a representação do leitor com o intuito de ser entendido. O emissor preenche seu texto com marcas culturais familiares ao leitor, desejando que ele entenda a informação nova presente no texto, tornando a relação de comunicação entre eles eficaz. A princípio o destinador partirá do conhecimento prévio do leitor e introduzirá no texto as informações supostamente desconhecidas que deseja transmitir.

Sendo assim, a mensagem utiliza de uma linguagem imbuída de informações, ideologias e impressões previamente compostas pelo autor do texto, que servirá como objeto de comunicação, caso os signos presentes nele tiverem significação simbólica para o leitor.

Tanto o emissor como o destinatário devem compartilhar conhecimentos culturais através da mensagem. Eles devem ter acesso à mesma língua ou pelo menos estarem aptos a decodificar determinados símbolos e compartilhar conhecimentos prévios nos mais diferentes âmbitos (icônicos, visuais, etc.)

No entanto, é importante ressaltar que mesmo o enunciador, tecendo seu interdiscurso para fazer sentido ao enunciatário, a resposta do leitor dependerá de um conjunto de fatores que envolvem a sua práxis social. Ele interpreta de acordo com sua experiência de vida. Como ressalta FEARING, as reações a estímulos nas situações de comunicação não são automáticas e mecânicas, mas sim dependem da totalidade de fatores culturais e de personalidade que cada pessoa leva para a situação.

b) A busca incessante pelo alcance de metas é inerente a natureza humana. Consciente ou inconscientemente, o indivíduo está a todo tempo reorganizando recursos externos e internos como valores e percepções, a fim de reduzir as tensões do meio em que se encontra inserido.
...o indivíduo sempre luta para reduzir as suas tensões. A necessidade de estruturação cognitiva, às vezes chamada de “necessidade de significação”, constitui, na realidade, a necessidade de estabelecer uma estrutura mais estável e, conseqüentemente, reduzir a tensão.

Cognitivamente, ele estrutura situações, universos para depois elaborar estratégias de superação. A isso dar-se o nome de “estruturação da realidade”. Essa estruturação não é um plano desenvolvido de forma consciente pelo sujeito da ação. Ela é automática e instantânea e precede toda e qualquer ação do indivíduo, inclusive em um simples ato comunicativo.

c) A apreensão do universo pelo homem está estritamente relacionada ao sistema de valores que o mesmo tem na percepção da realidade. Ao perceber um universo além do modo técnico-geométrico, que é a visão puramente objetiva do que é observado ou descrito, ele passa a se valer da percepção fisionômica que é a capacidade de perceber esta mesma realidade ou espaço com um pensamento criativo, que vai além da decodificação óbvia de signos explícitos para além da subjetividade humana.

d) Os estímulos comportamentais e geográficos, que regem as mais distintas formas sociais, estão intimamente ligados, exercendo interferências entre si. Cada sociedade vive sob o ditame de suas regras e convenções, campos comportamentais, que são determinados pelos campos geográficos: o próprio meio onde o grupo social está inserido.

Essa relação estabelecida mantém as estruturas sociais existentes, mesmo contrariando as possíveis aspirações individuais, que muitas vezes vão de encontro com os padrões preestabelecidos por cada grupo ou comunidade.


(MARCELA DIAS, MARIA DIONISIA E SÂNGELA RIBEIRO)

sexta-feira, 29 de maio de 2009

A subjetividade na construção de uma comunicação de sentido


No texto, A comunicação humana, Franklin Fearing faz consideraçõessobre o modo como se estabelece a interação do entendimento do homemapresentando uma cadeia construída na dependência das relaçõesmediadas a partir de questões culturais e individuais na produção deresultados que satisfazem a produção comunicativa. Segundo o autor quando o emissor tenta comunicar algo ao receptor,alguns fatores são importantes e decisivos para saber se haverá ou nãocomunicação.

Para tanto, o processo necessário para obtenção desteresultado deriva de uma construção não mecânica, pois depende dasrelações humanas, ou seja, sentimental, comportamental (pensamento econdutas). Desse modo, para que ocorra alguma mudança no comportamentohumano, é necessário haver um sentido compartilhado pelo produtor doestímulo e por quem é estimulado.Um desses “sentidos compartilhados” pode ser encontrado no que GeorgeH. Mead chama de “Assumir a atitude do outro”.

Isto é, um determinadoemissor, não estimula ou busca uma comunicação com o outro ao acaso,sem intenções, ele tem uma atitude e espera uma reação do receptor,reação essa que, o emissor seja capaz de tê-la também.Para que o receptor seja capaz de compreender toda essa intencionalidade do emissor, ou tenha algo parecido com a reaçãoesperada, é necessário que este receptor esteja a par dos códigosusados na tentativa de comunicação. Isso, a depender do caso, podefazer com que as reações a um determinado estímulo possam variar.Um bom exemplo a tomarmos é o da música, uma sinfonia, para ser maisespecifico. A reação que ela irá causar no ouvinte dependerá deinúmeras variáveis. Uma delas é o conhecimento musical que ele tem, seapresentarmos a 9º sinfonia do Beethoven, ou a 40º do Mozart, ou aindaa 1º do Tchaikovsky para alguém que tenha uma boa noção de música,certamente ele ficará impressionado e gostará muito.

Já se a pessoaque ouvir, não tiver noção de música, não tiver um ouvido acostumado àmúsica clássica ou simplesmente for pouco sensível à música, muitoprovavelmente ele terá um sentimento de aversão, mesmo diante daquelasmúsicas que são consideradas as mais perfeitas que já existiram.A estruturação da realidade é outro ponto levantado por Fearing. Otexto faz uma análise a partir das relações sociais vinculadas aopsicológico, visto que para explicar as dinâmicas do relacionamento sefaz necessário também o comportamento individual.O texto explica que os indivíduos de uma sociedade estão eternamentebuscando alcançar "metas", para isso eles traçam um caminho eestruturam suas ações visando realizar seus desejos.

Quando o indivíduo percebe que algumas forças estão ao seu favor e outrascontra, e na maioria das vezes essas forças vêm da relação entre ele eos demais indivíduos da sociedade na qual se relaciona diretamente ounão, ele começa a realizar o que o autor chama de "estruturacognitiva".Outra idéia exposta no texto trata do fato das pessoas reduzirem atensão, e o que seria a tensão? A tensão seria a pressão ou aperturbação causada antes do indivíduo alcançar suas metas. Nestemomento, acontece um fenômeno que consistiria na idéia de que uma novatensão surgirá exatamente quando acabar outra, ou seja, ao alcançaruma meta, surge uma nova.Os seres humanos são altamente complexos tanto na estrutura físicacomo na psicológica, imagine a infindável possibilidade de suposiçõesque podemos fazer de uma pessoa, isto acontece a todo o momento.

Para exemplificar podemos citar uma situação em que o candidato a empregoestá diante de uma entrevista com seu empregador, a cada resposta dadaé quase claro que ele analisou a personalidade do empregador e tentoumoldar sua resposta as supostas expectativas.

Existem situações cotidianas que certamente não fazemos uso dessaintenção em tudo que dizemos, mas o autor deixa claro que isso podeocorrer de forma inconsciente.De acordo com Franklin Fearing a distinção entre as percepçõesfisionômica e técnico-geométrica está na relação das pessoas com osobjetos (símbolos) que as cercam. Na primeira, não há separação entreobjeto e pessoa. A exteriorização do significado do objeto parte dointerior de quem vê, ou seja, depende da “atitude motora e afetiva dosujeito”. O significado de uma obra de arte, por exemplo, segundo apercepção fisionômica, está ligada ao repertório cultural de cadaindivíduo e não na obra em si.Já na segunda, como o nome já diz, a apreensão do significado doobjeto acontece de forma técnica. A pessoa se coloca como umobservador neutro, que avalia o objeto independente de suas crenças evalores, ou seja, são levados em consideração aspectos gerais e nãocaracterísticas destacadas pelo sentimento de quem vê.Aspectos presentes neste texto, como os campos estímuloscomportamentais e geográficos puderam ser observados em discussões nasala.

Tanto em “A conveniência”, quanto em “O arco e o Cesto” há umarelação entre esses aspectos.Em “A conveniência”, Pierre Castle fala sobre a necessidade que a serhumano tem de adotar comportamentos “aceitáveis” para que possacompartilhar de forma harmoniosa o espaço geográfico do bairro com osoutros moradores.“O Arco e o Cesto”, o autor mostra costumes e regras de organização datribo Guayaki. As tarefas da comunidade são divididas entre homens emulheres. Eles, os portadores dos arcos, têm o dever de caçar e provero alimento para a família. Elas, proprietárias dos cestos, sãoresponsáveis pelas tarefas domésticas.Os dois textos mostram a necessidade de estabelecer regras(comportamentos) para que os espaços geográficos, no caso o bairro e atribo, sejam desfrutados pelos habitantes de forma harmônica.

Allan Morais, Adriano Diniz, Evelin Queiroz, Thiago Gonçalves e Will Carvalho